sábado, 12 de julho de 2008

Demorar

Ainda que me sinta na necessidade de romper estritamente com qualquer tipo de distanciação que me pareça albergar em si uma espécie de convencionalidade consentida - ao fim e ao cabo uma ideologia, no sentido muito preciso que ela ganha na contemporaneidade a partir de Althusser, hoje bastante acentuado por Slavoj Žižek: i.e., o de ser inconsciente -, sinto-me igualmente, como se depreende daquilo que estou neste mesmo momento a escrever, obrigado a mantê-la. Obviamente que se encontra aqui em causa a reciprocidade que se estabelece entre a minha representação do blog como uma totalidade coerente, à qual - depois de um impulso criativo primeiro que inevitavelmente ganhou forma e projecto assim que o decidi substanciar num blog -, me submeti, aparentemente, de um modo voluntário, e a representação de todo o outro que leia aquilo que eu escrevo. "Aquilo que eu escrevo", justamente porque só neste movimento de reciprocidade entre a representação que eu faço do blog e aquilo que eu julgo ser a expectativa criada pela representação do outro, como é ridículo!, na verdade a representação da representação que o outro faz da minha representação; só neste movimento é que me posso constituir como autor, ou representar-me como tal.

Tudo isto apenas me conduz à minha "intenção" original de escrita, que era a de falar de algo do qual entretanto me esqueci durante a própria escrita, para depois me lembrar e automaticamente colocar em questão devido ao rumo que essa escrita tinha tomado. No entanto agora ganha uma dimensão enorme e profunda, simplesmente porque sinto despontar nela um sentido que me estava oculto nesse momento supostamente original da intenção primeira e que somente despontou da minha hesitação - palavra cara a Bergson - na escrita.

Demorar, ainda não pensei bem esta palavra. Demoro-me na escrita, estou, permaneço, nela e ao mesmo tempo, justamente, ela demora-se em mim, aparecendo-me como atraso. E não pára de bradar em mim o pensamento de que isto é uma espécie de alegoria literária da experiência de Deus.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Algo em mim de podre se desfaz.

Sou como caruma perdida algures na terra húmida do Inverno, aguardando uma - talvez - ilusória redenção no saturnino lodaçal.

Um pouco de nada me sabe escutando-o, pequeno, minúsculo, ínfimo.

É SANGUE ESCORRENDO DA IMENSA FERIDA DARDEJANTE DAS ALMAS, CLAMOR INFINITO DOS MORTAIS ESPÍRITOS; ÉTER DERRAMADO NA SUPERFÍCIE DOS ABISMOS.