sexta-feira, 30 de abril de 2010

O que fazer quando um espaço é totalmente branco e o único movimento aí presente é o de uma tautologia infinita em que a escrita referencia sem cessar essa branquidão? Quadrado branco sobre fundo branco. Detesto questões retóricas, contudo, elas testemunham por vezes uma real escrita do impossível.

O que fazer quando uma compulsão qualquer persiste para além de todo o conhecimento, de toda a vontade, de todo o gosto? Ding an sich. Nem sequer chegando a ser uma sublimidade, mas algo de terrivelmente banal: a gravidade da terra presente, em toda a sua medonha espessura, numa simples constatação de facto - o facto de se ser. Um verdadeiro feito, mas não uma proeza.

Por outro lado, tenho a perfeita noção, eu, de que pensar nesta escrita como uma escrita do vazio é uma mentira. Desde quando o vazio é sinónimo de viscosidade psíquica? Desde quando o vazio exuma uma fragrância fétida, como se uma protuberância larviforme se ocultasse no seu interior? Um não-nato, aborto monstruoso de algo que nada veio a ser.